Viva o amor!

No Dia dos Namorados, mulher doa rim ao marido no ES: “Fiz por amor"

A história de Maria Gorete e Fred é cheia de coincidências do amor: do momento em que se conheceram ao transplante

No Dia dos Namorados, mulher doa rim ao marido no ES: “Fiz por amor” No Dia dos Namorados, mulher doa rim ao marido no ES: “Fiz por amor” No Dia dos Namorados, mulher doa rim ao marido no ES: “Fiz por amor” No Dia dos Namorados, mulher doa rim ao marido no ES: “Fiz por amor”
Doadora Maria Gorete Hildefonso e redson Araújo Lima (Foto: arquivo pessoa)
Doadora Maria Gorete Hildefonso e redson Araújo Lima (Foto: arquivo pessoa)

Foi no Dia dos Namorados, em 2023, que Maria Gorete Hildefonso, de 47 anos, tomou uma das decisões mais generosas de sua vida: doar um rim ao marido, Fredson Araújo Lima, de 43. O gesto de amor salvou a vida dele, que enfrentava há quase cinco anos sessões de hemodiálise.

Fred, natural da Bahia, foi diagnosticado em 2018 com uma doença autoimune nos rins, chamada nefropatia por IgA (IgAN). Após biópsia, começou o tratamento com hemodiálise, e a esperança de um transplante parecia distante.

Eu via meu marido chegar em casa com a mochilinha da hemodiálise, já não conseguia subir escada. Eu até brinquei e disse que no dia que fizesse cinco anos na máquina, eu doaria meu rim. Exatamente cinco anos depois, isso aconteceu, lembra Gorete, emocionada.

Amor por acaso

Eles se conheceram por acaso, em um ponto de ônibus em Linhares, no Norte do Espírito Santo, em 2015. Gorete estava voltando do Rio de Janeiro e Fred voltava da Bahia, mas ambos tinham datas diferentes de retorno para o Estado. Por coincidência do destino, os dois adiantaram a viagem e se encontram no ponto.

Foi Deus que me levou naquele ponto. Eu queria chegar cedo em casa e ia de táxi, mas algo falou dentro de mim: ‘vai pro ponto de ônibus’. Meu destino estava ali, contou Fred emocionado.

O relacionamento, segundo eles, ou por altos e baixos, como em todos os casais. Mas algo os mantinha firmes. “Era como se Deus estivesse falando com ele: ‘Ela vai salvar sua vida’. A gente sente que tem um propósito um no outro”, conta Gorete.

Compatibilidade do casal

Com a informação da necessidade de um transplante, a princípio, os irmãos de Fred foram testados, mas nenhum era compatível. E a pandemia atrasou todo o processo.

Foi quando o coordenador de transplantes do Hospital Evangélico de Vila Velha (HEVV), Bruno Majevski, sugeriu testar outros possíveis doadores vivos, como parentes até o quarto grau ou cônjuges, com autorização judicial.

Maria Gorete é do tipo sanguíneo O negativo, o mesmo do marido. Fizeram os exames, e a notícia veio: eram compatíveis. “Bruno falou que estava tudo certo. A cirurgia foi marcada e caiu justo no Dia dos Namorados”, contou a esposa.

Como funciona o transplante com doador vivo?

No caso dele, o método utilizado foi o “Transplante com doador vivo”, que acontece quando o doador e o receptor estão vivos.

Segundo o coordenador da equipe de transplantes do hospital, o primeiro o para a realização de um transplante com doador vivo é a identificação dos possíveis candidatos. Podem ser parentes até o quarto grau ou cônjuges. Caso não haja vínculo familiar ou conjugal, é necessário obter autorização judicial.

Após essa definição, o paciente e o possível doador am por avaliações físicas e psicológicas. Em seguida, são realizados os testes de compatibilidade.

Se houver compatibilidade sanguínea e imunológica, uma nova etapa é iniciada: os dois am por uma avaliação médica completa para verificar se estão aptos a enfrentar o procedimento cirúrgico. Bruno Majevski explica:

O transplante com doador vivo permite programar melhor a cirurgia, diferente de quando o paciente depende da fila de espera por um órgão de doador falecido. Caso não haja um doador vivo compatível, o paciente retorna à fila.


Após o transplante, Fred precisou de cuidados rigorosos. O casal, membro da Igreja Luterana, leva uma rotina regrada e cheia de amor. Gorete, que agora vive com um único rim, também segue orientações médicas com rigor: evita álcool, não fuma e mantém uma dieta balanceada.

Eu tenho consciência, cuido de mim também. Fiz por amor, e nunca vou me arrepender”, declara.

Já o marido, é só gratidão:

Ela cuida de mim com muito carinho. Nunca mostrou fraqueza, mesmo quando a doação da minha irmã não deu certo. Ela disse: ‘eu vou te dar meu rim’. E cumpriu. Esse foi o maior presente da minha vida. Não vou esquecer esse 12 de junho nunca. Até meu último suspiro vou lembrar.

A história dos dois é mais que uma união afetiva. É uma aliança de fé, coragem e amor genuíno. “Quando falo amor, não é só amor de marido e mulher. É algo que transcende isso”, diz Gorete.

Leiri Santana, repórter do Folha Vitória
Leiri Santana

Repórter

Jornalista pela Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) e especializada em Povos Indígenas.

Jornalista pela Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) e especializada em Povos Indígenas.