McMigrane: A nova “cura” da internet para enxaqueca McMigrane: A nova “cura” da internet para enxaqueca McMigrane: A nova “cura” da internet para enxaqueca McMigrane: A nova “cura” da internet para enxaqueca
Foto: Freepik
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Nos últimos dias, uma tendência chamada “McMigraine” tem ganhado força no TikTok, especialmente entre criadores de conteúdo dos Estados Unidos. Trata-se de relatos de que uma combinação de Coca-Cola com batata frita do McDonald’s seria capaz de aliviar os sintomas da enxaqueca. Mas… será que isso faz mesmo sentido?

Antes de mais nada, vale entender melhor o que é essa condição que afeta milhões de pessoas no mundo todo.

O que é enxaqueca?

A enxaqueca é um tipo de dor de cabeça crônica e incapacitante, caracterizada por crises intensas que podem durar de 4 a 72 horas. Costuma afetar um dos lados da cabeça, com dor pulsátil, e pode vir acompanhada de outros sintomas como náuseas, vômitos, sensibilidade à luz (fotofobia), ao som (fonofobia) e, em alguns casos, distúrbios visuais conhecidos como aura.

As causas da enxaqueca variam entre os indivíduos e envolvem fatores genéticos, hormonais, emocionais e alimentares. E é justamente essa complexidade que faz com que soluções “milagrosas” da internet devam ser analisadas com cautela.

Por que Coca-Cola e batata frita?

A lógica por trás da tendência conhecida como “McMigraine” envolve três componentes:

  • Cafeína: presente na Coca-Cola, tem efeito vasoconstritor e pode, em alguns casos, ajudar a aliviar a dor. A cafeína inclusive é usada em medicamentos para enxaqueca. Porém, o uso excessivo pode ter o efeito oposto e desencadear crises.
  • Sódio: as batatas fritas do McDonald’s são conhecidas por seu alto teor de sal. A ideia é que o sódio, por ser um eletrólito, ajudaria na reidratação e na estabilização do organismo — já que a desidratação é um gatilho comum de enxaqueca.
  • Carboidratos simples: presentes tanto nas batatas quanto na Coca-Cola, ajudam a estabilizar a glicose no sangue. A hipoglicemia é outro fator que pode desencadear dor de cabeça.

O que diz a ciência?

Com a explosão de hacks no TikTok, cresce o risco de que soluções paliativas virem moda sem comprovação. Especialistas alertam que, embora açúcar, sal e cafeína possam aliviar sintomas imediatos em alguns casos, também podem atuar como gatilhos em outros. Isso porque cada organismo reage de forma única, e o que ajuda uma pessoa pode piorar a dor de outra.

Até o momento, não existem estudos científicos que comprovem que o combo McDonald’s e refrigerante seja um tratamento eficaz contra a enxaqueca. Pelo contrário: o consumo regular de alimentos ultraprocessados e ricos em gordura, sódio e aditivos está mais relacionado ao agravamento da saúde geral.

Por outro lado, há crescente evidência de que a alimentação pode sim influenciar nas crises de enxaqueca. Uma revisão recente publicada na revista Nutrients (Nguyen & Schytz, 2024) apontou que certas dietas — como a cetogênica, DASH, vegana com baixo teor de gordura, sem glúten (em pacientes celíacos) e dietas de eliminação — foram associadas à redução na frequência, intensidade e duração das crises, além do uso de medicamentos.

Os efeitos positivos da alimentação na enxaqueca podem acontecer por vários caminhos no corpo: como a redução de inflamações e do estresse causado por radicais livres, a melhora do funcionamento das células cerebrais (especialmente as mitocôndrias, que produzem energia), o equilíbrio dos hormônios e também a comunicação entre o intestino e o cérebro.

Quer seguir a lógica? Prefira versões saudáveis

Se a proposta é recorrer à combinação de cafeína, sódio e carboidrato para aliviar os sintomas, existem opções mais saudáveis que podem seguir essa linha:

  • Cafeína: café coado, chá verde ou mate.
  • Sódio e eletrólitos: água de coco, isotônicos naturais, suplementos eletrolíticos.
  • Carboidratos: frutas como banana e uva-a, ou mesmo um pão integral com mel.

Essas escolhas oferecem os mesmos componentes funcionais da tendência viral, mas com um valor nutricional muito superior.

E o que evitar?

Existem alimentos que, segundo estudos, têm maior chance de provocar crises em pessoas predispostas. Entre eles:

  • Queijos curados (ricos em tiramina)
  • Embutidos (com nitritos e nitratos)
  • Chocolate (por conter cafeína e fenólicos)
  • Álcool, especialmente vinho tinto (rico em histamina)
  • Glutamato monossódico (presente em muitos industrializados)

Manter uma alimentação regular, evitar longos períodos de jejum e hidratar-se adequadamente também são atitudes que ajudam — e muito — na prevenção das crises.

Apesar de curiosa, a tendência “McMigraine” está mais para mito do que para método. Embora tenha lógica fisiológica, a escolha desses alimentos compromete mais do que contribui com a saúde.

A boa notícia é que sim — a alimentação pode ajudar no manejo da enxaqueca. Mas isso deve ser feito com acompanhamento, estratégia e, principalmente, ciência.

Bruna Tommasi

Colunista

Nutricionista graduada pela Universidade Vila Velha e pós-graduanda em Nutrição Esportiva e Estética. É apaixonada por promover saúde de forma prática, combinando ciência e estilo de vida para ajudar as pessoas a alcançarem seus objetivos com equilíbrio

Nutricionista graduada pela Universidade Vila Velha e pós-graduanda em Nutrição Esportiva e Estética. É apaixonada por promover saúde de forma prática, combinando ciência e estilo de vida para ajudar as pessoas a alcançarem seus objetivos com equilíbrio